Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!
terça-feira, 30 de junho de 2015
Clara
quinta-feira, 25 de junho de 2015
Bagaço
quarta-feira, 17 de junho de 2015
Na procissão da tristeza
terça-feira, 16 de junho de 2015
minhas 7 quedas
minhas 7 quedas
Paulo Leminski no livro Caprichos e relaxos
minha primeira queda
não abriu o paraquedas
daí passei feito uma pedra
pra minha segunda queda
da segunda à terceira queda
foi um pulo que é uma seda
nisso uma quinta queda
pega a quarta e arremeda
na sexta continuei caindo
agora com licença
mais um abismo vem vindo
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quem me dera um abutre
pra devorar meu coração!
naco de carne crua
comida de pé no balcão!
quem me dera um apache
pra colher meu escalpo!
que desta vez não escape
nenhum disfarce!
tomara que um furacão
caia sobre meu navio!
que nenhum deus nem dragão
possa ser meu alívio!
sexta-feira, 12 de junho de 2015
Poema perto do fim
quinta-feira, 11 de junho de 2015
Doces e miúdos gestos
Doces e miúdos gestos
Belizario, outono 15.
Sou devoto das coisas pequeninas,
Das sutilezas cotidianas.
Descuidadas dádivas...
Os jeitos e trejeitos de uma pessoa.
Como são doces os miúdos gestos!
Como é amarga a vida
de quem espera, ou sobrevive
apenas com atos grandiosos.
Perde a resistência que se faz diária,
O aprendizado da convivência.
Perde a singeleza do sorriso...
Perde minha capacidade de intensificar o amor...
Que é só boniteza.
quarta-feira, 10 de junho de 2015
Sangrado
Sangrado
Belizario, outono 15.
Acabou.
É outono. As folhas rolam nas pedras...
Úmidas, elas choram poemas de amor.
Meu corpo bóia nas águas do rio...
Devagar, ele bate no cais...
Ainda permaneço de olhos abertos.
Olho para o céu... agonizo.
Foi no coração esta punhalada...
Que sangra sem dó.
De vermelho, tingem-se as ondas dos sonhos...
E meus beijos derrotados,
E os suspiros de paixão, em vão,
Se aglomeram entre esgoto e limo...
e se fazem podridão.
Morri.
Sem dó...na esquina da mentira,
sangrado o peito,
coração na mão.
terça-feira, 9 de junho de 2015
Queime o satélite
Queime o satélite
Belizario, outono 15.
Desliga o computador!
Desliga o telefone!
Para de lamber espelho!
Vem me abraçar, vem me reconhecer!
Como são frágeis os narcisos da rede social.
Gente que se cutuca toda pelo efêmero...
Vem cá minha flor!
Deixa eu te provar!
Te auto afirmes na minha boca!
A vida é feita de barro e de chão!
Vamos chafurdar,
Vem rolar comigo!
Vem me lambuzar!
Dilúvio
Dilúvio
Belizario, outono 15.
Vi passar na correnteza... e me joguei!
Era um dilúvio!
Mas como todo fenômeno deste tipo,
o milagre veio.
Teci esta boniteza...a dois...a três...a quatro!
Saboreava cada pedacinho deste meu viver.
Na espiadinha das coisas simples,
fui fortalecendo a certeza,
de que amor é coisa a se fazer na caminhada...
Amadurecendo as entranhas da ansiedade.
O efêmero é imaturidade do tempo!
Ilusão de quem se alimenta de espelho!
Ser feliz não é ter coisa plena.
A intensidade vem e vai...
É preciso entender a vida como as manobras do vento...
II
II
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.