Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sagitário

Sagitário
Vinicius de Moraes no livro A mulher e o signo

As mulheres sagitarianas
São abnegadas e bacanas
Mas não lhe venham com grossuras
Nem injustiças ou censuras
Porque ela custa mas se esquenta
E pode ser muito violenta.
Aí, o homem que se cuide...
- Também, quem gosta de censura!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Foi numa lua cheia de novembro...

Foi numa lua cheia de novembro...
Belizario, primavera 11.

Foi numa lua cheia de novembro...
Numa madrugada de primavera,
Como nas tantas em que o pai gostava de brincar...
Toda peludinha,
Ditado antigo diz que guria peluda é braba...
Quebrou as regras,
Nasceu indignada!
Com pêlos até quase nos olhinhos,
Testa franzidinha de gente que pensa,
Logo abriu aquele bocão imenso... sob sua cor morena...
Preguiçosa que só ela...
Quis o destino escorpião.
A mulher de vermelho no corredor,
feito um anjo naquele prédio branco e frio,
cheia de calor, sentenciou:
Deste signo e com esta lua cheia,
Vai ser mulher de fibra,
Personalidade forte,
Iluminada...
Pela lua cheia,
No colo do pai...
Que já a vira em seus sonhos...
E tantas e tantas vezes a chamou...
E hoje, a semeia em seus braços...
Para as utopias...
e para a maior delas:
o amor.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

É provação

É provação
Belizario, primavera 11.

Esse toc-toc na porta...
É minha filha que vem.
Arrastando a primavera...
Que linda florzinha...
Jujubim...
Brotando ternura no chão.

Carrega flores para o pai.
Corpo novo, alma velha...
Quem dera se fosse de sabedoria.
Na bela carcaça urge a penitência...
Dissimulada viola que só desafina,
É provação!