Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Poemas antigos, poetas novos

Poemas antigos, poetas novos
Belizario, inverno 09

Madrugado,
insatisfeito e cedo,
nos livros tentei me inspirar.
Poemas antigos, poetas novos, não hão de bastar.
Na rede que não dá peixe,
até a página expirar,
meu flerte não dá certo.
Poemas antigos, poetas novos, não hão de bastar.
Tento esta escrita dura,
por vezes desafinada,
mas que apela ao amor.
Amor desatino, amor florido.
Poemas antigos, poetas novos, não hão de bastar.
Se teu sorriso
dessa boca mágica e fina surgir,
e de um beijo teu eu gozar,
poemas antigos, poetas novos, tanto faz,
sei que já bastam, me inspiram a dançar!
Vem comigo!
Além disso, posso cantar!
É noite de lua cheia,
poetas rebeldes como eu,
só tem um sentido,
eterno verso a bradar.
Ao chão de estrelas estendido:
te amar, te amar!

Um comentário:

  1. Grande Belizário! Essa era do nosso time hein, só percorrendo a noite. Muito bom!

    ResponderExcluir