Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Tempo sem cor

Tempo sem cor
Belizario, outono 20.

Canta o passarinho da saudade.
Que vontade de te tocar,
De te olhar,
Entrelaçar teus dedos nos meus.
Passar a mão nos teus cabelos,
Te cantar versos,
De desejar teus gestos,
Todo amor que tu me deu.
Onde foi que te perdi?!
Para onde foi o nosso amor?!
Virou dejeto descartado,
Hoje vive no passado,
Um tempo sem cor!

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