Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Mar

Mar
Oliveira Silveira no livro Orixás - Pintura e Poesia

Águas ondulantes
às vezes azuis.

Sal na onda, à tona,
e no fundo profundo.

Mar alto, mar afro,
mar África, mar
puxado, espichado
de lá para cá.

Nele bela pele
escura preta pura.

Cor preta de povo
jeje, iorubá
e brilho de peixe
e vida de mar:
o mar da Iyá,
mar Iemanjá.

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