Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Lágrimas de crocodilo

Do livro sujo de terra fértil...herança de Belizario.

Lágrimas de crocodilo
Belizario, outono 11.

Meu choro não tem mais peso pra ninguém..
são lágrimas de crocodilo...
desdém dos que me tratam como desaparecido,
daquele que não mais convém.

Sugiro uma volta pelo mundo...
olhar atento ao terreno...
ao mágico também...

Nas coisas que acredito,
há espaço pro humano desatino...
os feitos de Olorum são gente como eu.

Imperfeitos meninos,
que colhem o que semeiam...
desafortunados de futuro...
calados pelo destino...
sei bem.

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