Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Alvorada

Alvorada
Rodolpho Xavier

Salve Alvorada Salve, aurora resplendente
Dum porvir cheio de glórias! Bússola da etíope gente
Ao rumo doutras vitórias! Passado que nunca mente,
Velhas lides, transitórias, Hoje, és arca do presente
Que arquivas nossas memórias. A “Campanha de Educação”
Que encetas, desassombrada,
Para não ser desvirtuada Deve vir do coração
Da raça, que escravizada, Foi pelo seu próprio irmão...

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