Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um Lobo em minhas veias

Um Lobo em minhas veias
Belizario, inverno 09.

Aos que tombaram.
Aos descamisados.
Aos que partiram, que foram retirados.

Aos competentes de coisa nenhuma, resta a glória da tirania.
Que embalsama seus bolsos, sua mesquinhez.
Daqueles que não deliram.
Daqueles que não enxergam o porvir.
Que não perseguem a vida.
O sonho do amanhecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário