Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Queda livre das alturas que faço

Queda livre das alturas que faço
Belizario, verão 11.

Meio cá, meio lá.
Mas não sou metades, sou pedaços!
Quanto mais a partida se aproxima,
mais me desfaço.
Saudade?!
Me acompanha desde que nasci...
Tempo?!
É o que me dribla e me faz cair no chão...
Amor?!
É o que de vez em quando junta meus pedaços...
Paixão?!
É o que me faz tantas vezes em sonho...
Do chão, já conheço o sabor...
Dos céus, pulo tanto que um dia ainda vou voar...
nem que abra um guarda-chuva em dia de vento...
Sou a queda livre das alturas que faço.
Sou a correnteza do rio em dias de rebeldia...
que a força se faz na contra-mão.

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