Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Rio e eu...metamorseados

Rio e eu...metamorseados
Caiuá, outono 11.

A fronteira é a minha vida...
minha casa.
É o sol vermelho beijando o horizonte de um lado...
é a lua elegante se abrindo toda no céu ali onde é só virar o olhar...
é eu na ponte entre esses dois mundos...
com sabor de vinho.
Minha vida é como esse rio denso...
turbulento...de correntezas diversas...
mas intenso...e sempre vivo...
que carrega os desejos...
o que não presta também.
Mas que sempre presente,
beija e afaga as pessoas...
porque é acreditar...
persiste na sua insistência...
é dádiva...
é mais uma criança que vai nascer...
sou eu a embalar esse sonho...
com vento no rosto...
construindo o porvir.
Rio...é tu e eu...
metamorfoseados...
em paixão.

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