Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Morre o espírito criativo

Morre o espírito criativo

Belizario, inverno 11.



Esse tempo...

que aqui passa diferente.

Às vezes é lento...

O rio formoso fica monótono...

E as pedras na calçada refletem o sol.

Em que eu lagarteando,

penso nela, nele...

intensamente.



Mas nesta cidade o tempo é mesmo outra coisa.

Me vejo envelhecido...

É tanta gente que se olha...

Te avalia...

Te prende numa mesquinharia de expectativa...

de opinião: olha o que o fulano pensa!

de comportamento: olha o que o fulano faz!

Na primeira vista parecem jovens,

mas com olhar atento,

são velhos peludos que babam...sedentos por hipocrisia.



Seis meses valeram anos...

É o espelho que me mostra torto,

meus olhos fundos,

minha cara mal lavada,

meu corpo que se definha...

Por um povo pequeno e mesquinho,

que saúda os que vem de longe,

pelo comércio seco, aproveitador da classe merda...



E é nesta terra,

que um dia fora de curiosos e aventureiros,

que o tempo passa lento...

Mas passa rápido também...

Fazendo de mim um velho...

Que o espelho entrega:

vai morrendo o espírito criativo,

cansado e triste.

Um comentário:

  1. Todo mundo é parecido
    Quando sente dor
    Mas nú e só ao meio dia
    Só quem está pronto pro amor...
    O poeta não morreu
    Foi ao inferno e voltou
    Conheceu os jardins do Éden
    E nos contou...

    Fuerza!

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