Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Inesperados ventos, brados anarquistas

Inesperados ventos, brados anarquistas
Belizario, primavera 11.

Foi na boca de um menino que me reencontrei.
Quando não respeitou a convenção,
e peitou o ódio tirano
do que se regozija
e se declara libertador.

Passo a frente não sabia mais dar,
rodopiava em torno do próprio rabo,
tal qual cusco amarrado, focinho reprimido,
com grades ao redor,
sem na rua um passo dar.

Blindado pela indiferença,
pela falta de coragem,
que o sangue juvenil,
pelo menos em alguns e saúdo os que restam,
não aceita, não compensa,
ainda insistem em bradar.

São tempos de água parada...
de acomodação... e convenção com os alpinistas,
escalando e disputando os cargos mais ínfimos,
famintos de poder,
falo principalmente das gerações mais novas...
mas também das mais antigas.

Suerte e ainda bem,
que inesperados ventos,
feito fina brisa ou intenso tufão,
ainda existem na terra,
levantando poeira do chão.

Trazem antigos brados anarquistas,
dos mais longes cantos do mundo...
e a juventude ainda resiste! E se multiplica!

Tumultua as águas,
não aceita o fatalismo, a apatia,
dos revolucionários de boca,
e dessas bocas urge ainda
o eterno protesto, que se atualiza, a maior reivindicação:
contra a fome, o estado fascista, a burguesia e a opressão.

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