Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Integração nas prateleiras

Integração nas prateleiras
Belizario, primavera, 11.

Na antiga Guarda da Lagoa,
Mas falo nos atuais dias,
Comportamento corriqueiro
é sacanear quem vem de fora...
apesar de tudo, com cantos de viva, viva!..
entoa certo povo,
na Câmara, na rádio, na praça,
salve esta nova raça,
dinherus turistas!

Sem falar na escrita dos jornais...
Onde a cidade brinda a saída,
O fugir da estagnada economia.
Explorando o passado “glorioso”,
e a zona franca...salve a classe média em euforia!

É uma espécie de sentimento geral,
Que esperto é o que te passa a perna.
Pede mais quando o valor é pouco,
Vende como bom o que não mais presta!

O comportamento, diriam alguns,
É generalizado...
Vem também com quem de longe chega...
Desesperado pelo desconto,
No atropelar dos freeshops e no bater das tarjetas...

Tudo bem...dou razão para estas bocas,
Que são livres da xenofobia provincialesca.
Mas ainda quero ver em alguma cidade,
O manancial que jaz neste fortim,
deste tanto de gente picareta...

Ah, que saudade dos tempos que não vivi,
Dos outros tempos desta fronteira.
Onde o rio era um passo fluído,
E a integração não era só nas prateleiras...

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