Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Reverso

Reverso
Lúcio Xavier

Duvido,
Que ainda haja tempo disposto.
Mirando no rosto,
Daquele que ainda intimido.

Um dia aguerrido,
Cerrava nos dentes desgosto,
Proposto,
Pra todo alarido um bandido.

Agora caído,
Suplica por mero recosto.
Apela pro gosto,
Que em mim ainda nota retido.

Esquece iludido,
Do vão dessa vida me imposto
E assim sobreposto,
Me arranca da dor um gemido.

Se julga traído,
Clamando por tempo lhe posto.
Recebe o reposto,
Por ter-me um dia perdido.

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