Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Bendito carteiro!

Bendito carteiro!
Belizario, verão 11.


Bendito carteiro!
Que trás meus livros...
sempre sorridente, na mesma hora de sempre!
Nessa batalha com o digital,
o papel ganhou pra mim...
Bendito carteiro,
pássaro alado...
que de longe trás as inspirações sem fim.
Fico imaginando...
estes livros passeando de barco pelos rios,
encontrando Sidartha, Thiago...
Andando de carro de boi com Josué, Amado...
Sobrevoando e tramando horizontes com Neruda...
no pampa de Silveira...nas ruas de pedra centenárias de Gullar...
e chegando nas minhas mãos...cheirosos...aventurosos...
cheios de carinho...Bendito carteiro!
Muito obrigado!
Ah, como são lindos...
e viva Manoel de Barros!

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