Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Perdi

Perdi
Belizario, verão 11.

Foi por um instante...
Mas pensei que seria daqueles sortudos,
que depois de uma separação,
se apaixonam de novo pela mesma mulher...
ganham outra chance.
Ah, o poema já estava escrito na minha cabeça...

Mais uma vez errei,
e mais outra chance se foi.
Achei que poderia...
que conseguiria reinventar o amor...
em mim...
em ti...
perdi.

Falavas em juntar cacos,
estou aqui a procurar meus restos...
como diria o poeta: fico no fim que mereço!
E como mereço...e como mereci.

Contraditório mais uma vez me fiz...
fui promíscuo com o adeus.
Perdi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário