Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

terça-feira, 9 de junho de 2015

Dilúvio


Dilúvio 
Belizario, outono 15.

Vi passar na correnteza... e me joguei!
Era um dilúvio!
Mas como todo fenômeno deste tipo,
o milagre veio.
Teci esta boniteza...a dois...a três...a quatro!
Saboreava cada pedacinho deste meu viver.
Na espiadinha das coisas simples,
fui fortalecendo a certeza,
de que amor é coisa a se fazer na caminhada...
Amadurecendo as entranhas da ansiedade.
O efêmero é imaturidade do tempo!
Ilusão de quem se alimenta de espelho!
Ser feliz não é ter coisa plena.
A intensidade vem e vai...
É preciso entender a vida como as manobras do vento...

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