Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Na procissão da tristeza


Na procissão da tristeza
Belizario, outono 15.

A gente vai perdendo a alma aos poucos.
Como se fosse procissão... de tristeza.
Elas passam em ritmo lento, em lamento...
Ornamentadas de saudade.
Uma a uma, 
gota de sangue por gota de sangue,
vamos sucumbindo aos poucos,
no som do arrastar dos pés no chão seco.
E a poeira levantada nos cega,
e a nossa vida perde todo o enredo.
É na procissão da tristeza,
Que morro todo dia,
No rugir das sandalhas velhas,
Na solidão do meu lamento.

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