Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Da Alegria e da Tristeza

Da Alegria e da Tristeza
Khalil Gibran em trecho do livro O Profeta

Então, uma mulher disse: Fala-nos da Alegria e da Tristeza.
E ele respondeu:
Vossa alegria é a tristeza desmascarada.
E o mesmo poço de onde surge vosso riso esteve muitas vezes cheio das vossas lágrimas.
E como pode ser diferente?
Quanto mais profundamente a tristeza escava o vosso ser, mais alegria ele pode conter.
Não é o cálice que leva o vosso vinho o mesmo cálice que foi queimado no forno do oleiro?
Não é a lira que conforta o vosso espírito a mesma madeira que foi esculpida com facas?
Quando estiverdes felizes, olhai no fundo dos vossos corações e vereis que, na verdade, estais chorando pelo que foi prazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário