Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

sábado, 8 de maio de 2010

Meus avós

Meus avós
Belizario, em alguma estação de 98.

Minha avó eu não conheci.
E ela também não me conheceu.
Fico imaginando como ela teria sido...
Alegre, braba, divertida, chata...
Não sei.
Mas ela seria a minha avó!
Meu avô eu conheci.
E ele também me conheceu.
Ele era...
Alegre, brabo, divertido, chato...
E ele era meu avô!
Enquanto ele estava ao meu lado,
eu quase não o curti...
Agora, me entristeço cada vez que penso nisso...
Eu quase não o curti!
A janela, o opala, o cigarro...
Tudo rimava com o "velho" solitário.
Que sofreu 17 anos,
esperando o dia do reencontro com a "velha".
Agora os dois estão juntos...se amando.
A vida é curta,
temos que curtir todas as pessoas,
como se fosse o último dia...
Meu avô,
minha avó...
Um dia sentaremos na mesma mesa,
e conversaremos sobre a vida.
Lembraremos tudo que não fizemos e curtimos,
deixando para o outro dia...
Lourival e Anita!

Nenhum comentário:

Postar um comentário