Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Canção da amabilidade

Canção da amabilidade
Bertolt Brecht no livro Poemas e Canções

Pisar o semelhante,
não será fatigante? Em vossa fronte
incham as veias com o esforço da cobiça.
Aberta ao natural
a mão oferta e recebe com facilidade igual.
Só a ânsia de agarrar é que causa a fadiga. Ah,
que alegria, dar algo! Como é bom
ser amável - uma palavra boa
é como um leve suspiro que voa!

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