Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Se

Se
Giordana Porrat

Se o mundo te der limões:
Faça uma revolução;
Jogue-os na cara de quem te deu.
Se o mundo te der tormenta
Ria dele e diga a verdade:
“_ Não sou nada mais que um pequeno grão!
Se, vem a ventania, eu vôo;
Se, a chuva chega, eu bóio;
Se, pisam em mim, eu incomodo até o fim.”
Quando o mundo passou a ser um obstáculo?
Por que foi que abandonamos
As matas e os rios,
Para nos cercar de concreto e pedra?
Compromissos e horas marcadas?
Competição, não pela sobrevivência,
Mas pelo artigo de luxo?
O homem sangra,
Sente fome, tem medo e frio;
Já não sorri.
E têm uns melhores que os outros?
O homem tem excretas,
Não pensa no que diz,
Magoa por ego ferido,
Louva deuses distantes,
E não olha para o ser ao seu lado.
Se preocupa com o futuro
E não faz nada no presente.
Vende uma imagem
Composta de máscaras.
Sente emoções ficcionais,
Copiadas do último filme de ação.
Quando sente...
Se sujeita por fraqueza,
E não por compreensão.
Amontoa-se em cidades.
Cria padrões e regras
-nega individualidades-
Comete violências inexplicáveis.
Pensa!
E como pensa:
Em como perder quilos;
Em como se esconder da responsabilidade;
Em como passar a vida da maneira mais passiva possível.
Eu sou vício e choro!
Clareza e loucura!
Eu sinto o mundo saindo pelos ralos
Fétido e pútrido,
E sei que não sou a rolha que O impede de esvair por inteiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário