Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ainda ontem...

Ainda ontem...
Belizario, outono 05.

Ainda ontem um sujeito passou, bateu nas costas e disse:
A vida é feita pra sonhar, e os amigos pra passar.

Ainda ontem, outro doido passou, olhou nos meus olhos e disse:
Mesmo que fujas pra outro lugar, teu coração ainda vai ficar por lá.

E eu cansado de olhos e de reclamações...
Peguei as malas...fui morar em outro lugar.

Mas não, não adianta fugir, não adianta chorar...
que onde for, a mesma vida vai te esperar.

Ainda ontem encontrei amigos, nas esquinas que fiz perder sentido.
Eles não estavam mais lá, mas ainda insistia em reencontrar.

E os bares, que outrora me faziam sorrir, poetar e cantar...
Hoje são becos escuros de solitários a procura de um par.

Mas sim, os amigos vão partir, as ruas vão entortar...
e na estrada vais ter que te reinventar.

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