Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pátria de chuteiras

Pátria de chuteiras
Belizario, inverno 10.

África do sul,
terra rememorada nestes tempos de bola...
Soweto...tantos tombados...sangue juvenil!
Brasil. Pátria de chuteiras...ruas e casas enfeitadas...euforias mil!
Não desceu do ônibus...que carregava o país todo dentro...
não pisou em terra de negro...decidiu e não viu.
Desfilou entre campos de golfe,
de suas vestes o capital emergiu como cartão postal!
Pátria de chuteiras incapaz de reconhecer um negro olhar calejado...
Tao parecido como o seu...esquecido como tanto quis o general,
que emergiu em 31 de março, 1º de abril.
Não abraçou Mandela, não acendeu vela a Biko.
Preferiu uma grama artificial...não sujou sapato com terra vermelha,
aleitou o passado tirano, endossou o sono do rico.
Enfeitou a rua...chorou porque não ganhou...e o q sobrou?!
Uma Holanda, bôer “apartheideana”, aplaudida...
uma Fifa corrupta, das mais viris capitalistas...
Teixeiras, especuladores, dinheiro encardido...
que chance se perdeu,
de estreitar o laço oprimido,
e poder cantar pelas ruas de Soweto, de qualquer viela do meu Brasil:
agora chegou tua vez burguês tirano!
Não mais bateu na trave,
do gol libertário,
fiz meu fuzil!

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