Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sanguessuga

Sanguessuga
Luane Alves

Passo a passo
Eu caminho,
Fugindo de você,
Me guiando
Pro inferno
Longe daqui.
Ou será que o inferno é junto a ti?
Se não for,
Por que essa chama que não se apaga?
Que me aquece,
Fogo que arde em mim,
Sanguessuga,
Levou minha paz,
Quebrou o frasco
Do nosso amor.
A última gota que restou
Hoje se derrama,
Desfila,
Foge pelo canto do meu olho,
Desenha minha cara,
Sanguessuga do meu calor.

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