Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

sexta-feira, 30 de abril de 2010

E sobre o casamento, mestre?

E sobre o casamento, mestre?
Khalil Gibran no livro O Profeta

Então, Almira falou novamente e disse? E sobre o Casamento, mestre?
E ele respondeu, dizendo:
Vós nascestes juntos e juntos permanecereis para sempre.
Estareis juntos quando as brancas asas da morte acabarem com os vossos dias.
Sim, estareis juntos mesmo na silenciosa memória de Deus.
Mas haverá lacunas em vossa união.
E deixem que os ventos dos céus dancem entre vós.
Amai um ao outro, mas não façais uma ligação de amor.
Deixai que seja como um mar em movimento entre as praias de vossas almas.
Enchei o cálice um do outro, mas não bebei do cálice do outro.
Dai um ao outro do vosso pão, mas não comei do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos e sejais alegres, mas deixai que cada um fique sozinho.
Assim como as cordas de uma lira são sozinhas, apesar de vibrarem com a mesma música.
Dai vossos corações, mas não para que o outro os guarde.
Pois apenas a mão da Vida pode comer vossos corações.
E ficai juntos, mas não juntos demais:
Pois os pilares do templo ficam separados,
E o carvalho e o cipreste não crescem na sombra um do outro.

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