Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Memórias de noites embriagadas

Memórias de noites embriagadas
Belizario, inverno 05.

Aqueles devem estar louquinhos a essa hora!
É noite,
é sábado,
inverno,
rua afora.
Aquelas pernas cambaleando,
ou marcando passos de doidas caminhadas.
E as ruas, com paralelepípedos úmidos,
fazendo o pano de fundo,
para no céu a lua dar gargalhadas.
Aquelas cabeças chapadas...
e vinho!
Cantam agitando até os tristinhos.
E eu aqui mudo pensando,
irônico, sorrindo:
- Pior, amanhã é domingo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário