Ainda lembro do cortejo...a cantoria triste...minha roupa branca de condenado no contraste com a minha negra cor...aquela criança não sai da minha cabeça...caminhava curiosa ao meu lado, no compasso do tambor do militar...a marcha era fúnebre...alguns aproveitavam o momento para fazer dinheiro...o Mariano era um deles, sonhava com um bom pecúlio e a alforria um dia comprar...para mim isso já não bastava...logo depois da primeira chibatada, apaguei...acordei com os gritos de quem me delatava...senhor e senhora no chão...ainda corri...mas sabia que logo minha passagem por aqui estaria acabada...da cadeia para a igreja...logo a ponte sobre o arroio onde tantas vezes acompanhei o pôr-do-sol...e lá estava eu subindo os degraus...o homem da religião do rei na minha frente aos prantos fingia seu interesse por minha alma...e eu fingia não ter medo...quieto...sofri...o rufar dos tambores...meus olhos se fecharam...logo estacionou o barco...finalmente livre...naveguei...como o tempo, tornei-me múltiplo...resisti!

domingo, 25 de abril de 2010

Gosto doce da rapadura

Gosto doce da rapadura
Belizario, primavera 08.

Se achas que não te vejo,
vejo sim!
Ser gente para ti não foi efeito.
O feito era aquele dedo,
que te apontava pra rua!
Tu, uma espécie de gente sem morada...mentira!
A rua é a sua présa!
Mas no bar tu não pôde entrar.
Nem com dinheiro na mão?!
Achavas que sim...foi não...
Só querias o gosto doce da rapadura,
herdada pela présa...na morada!

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